Na sexta-feira uma fulana com jeito de feiticeira
Atravessou na minha frente e me falou
Que conhecia uma profecia que atazanaria
O destino do mundo que deus criou
Ela insistia que se aproximava o dia
Mas tudo que ela dizia eu não queria escutar
É só desgraça, bomba, guerra e desespero
Espero morrer ligeiro pra não ver isso chegar
Logo a megera colocou a mão no bolso
Com um sorriso no rosto e me deu o seu cartão
“Acabe com os seus problemas sem esforço
Oferecemos um desconto e pagamento à prestação
E com um descarrego restauramos seu sossego”
E então eu disse: moça eu não gosto disso não
Os meus problemas eu resolvo com suor
E a minha grana nessa vida eu não vou dar na sua mão
Não se vende vaga no céu
Nem se vai pro inferno em vão
Vê se leva esse seu papel
Pra eu não ter que sujar o chão
Não duvido da sua fé
Ou da sua religião
Mas eu sou que nem São Tomé
Só vou crer com comprovação
Nesse instante ela ficou muito irritada
E gritando revoltada me jogou uma maldição
“Espero que você se encontre com o capeta
E ouça o som das trombetas fervendo num caldeirão
Pois minha reza é coisa forte e nefasta
N’outra esquina ela te arrasta sem você mesmo notar
Você vai se arrepender de ter nascido
Seu futuro está perdido, seus miolos vão fritar”
E eu fui pra casa pra não ouvir desaforo
Posso ser louco, ser tolo mas não brigo com mulher
E já também não tenho medo do inferno
Depois de viver na Terra vou pro que der e vier
Saí de noite pra encarar o meu trabalho
Sou agente funerário e meu dever é enterrar
Qualquer defunto que apareça no recinto
Pode pensar que hoje eu minto mas ela que chegou lá
Não se vende vaga no céu (...)